SONDRA. Ah, como eu queria que o mundo inteiro viesse para este vale!
CONWAY. Se acontecesse ele não permaneceria um jardim tranquilo por muito tempo.Os protagonistas de Horizonte Perdido (1937), de Frank Capra, falando sobre Shangri-Lá
Uma pessoa singular nos pode revolucionar a vida, mas essa em geral é uma transação que leva tempo. Uma comunidade singular – o encontro com uma cultura e com uma solução de convívio diferentes das que conhecemos – tem potencial para nos derrubar e desarmar imediatamente.
É por isso que a literatura e a experiência recorrem com tanta frequência à metáfora do deslocamento como iluminação,
Parte essencial da imagem que o ocidente faz de si mesmo é que nos consideramos desde sempre mais lúcidos e esclarecidos do que o resto do mundo.
Por quase dois milênios o orgulho ocidental esteve fundamentado no fato de sermos os legítimos bastiões da fé num mundo de resto cheio de incrédulos e pagãos. Como não há narrativa sem paradoxo, hoje em dia nos orgulhamos do contrário: de sermos aqueles que abandonaram as ilusões da religião num mundo de resto cheio de crédulos e fanáticos.
Os abusos do Estado Islâmico servem, em particular, como lembrete do quanto devemos nos congratular e dar tapinhas de aprovação nas costas uns
Em meus anos de teatro amador (leia-se teatro de igreja) acabei avançando rumo à mais paradoxal das conclusões. A pessoa comum sente-se mais ou menos à vontade para interpretar a tristeza, a perversidade e a fúria, mas irá sentir-se verdadeiramente violada se tiver de levar ao palco a alegria. Atores amadores estão prontos para encarnar os tentados, os atormentados, os drogados, as prostitutas, os maus e os infelizes, mas é absolutamente trabalhoso fazê-los enfrentar mais de um minuto de um final feliz. Estão prontos para o Rei Lear, mas não para Sonho de uma noite de verão.
O amador sente – ou pelo menos alega – que
No Novo Testamento a lógica do sexo como ritual de dominação é menos explícita, mas permanece sendo importante substrato (uma daquelas realidades sociais tão unânimes que permanecem ocultas, subindo poucas vezes à superfície da consciência ou do discurso) todas as vezes que o assunto é mencionado ou aludido. A questão é na verdade de importância fundamental para os autores do Novo Testamento, porque a mensagem de Jesus e sua boa nova são interpretadas por eles como representando um chamado universal ao abandono dos mecanismos de controle e manipulação que compõem o sistema deste mundo.
É um episódio de Game of Thrones: ao norte está a Germania, o reino dos guerreiros loiros e ricos que não quer perdoar a dívida de Atenas, o reino pequeno e indisciplinado da fronteira sudeste – entre outras coisas porque não quer criar precedentes de tolerância para os outros países pequenos e endividados de Westeros que quer continuar a controlar. Mas do outro lado do Oceano o conspiratório Império Americano manda pombos-correio para que a Germania considere perdoar Atenas, porque afinal de contas a casa Merkel
Estou de fato convencida de que o mal nunca é “radical”; de que ele é apenas extremo, não possuindo nem profundidade nem uma dimensão demoníaca. O mal é capaz de crescer descontroladamente e assolar o mundo inteiro precisamente porque, como um fungo, alastra-se pela superfície. Ele “desafia a compreensão”, como eu disse, porque o pensamento tenta encontrar alguma profundidade, e no momento em que se ocupa do mal fica frustrado porque ali não há nada. É essa a sua “banalidade”. Somente o bem tem profundidade e pode ser radical.
Hannah Arendt, autora de Eichmann
Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Mateus 1:1
Antes de nos aproximarmos dessa conclusão poderá ser útil que nos detenhamos por um momento diante desta única ideia: o quanto o conceito de perpetuação – perpetuação da herança, perpetuação da história e dos valores, mas acima de tudo perpetuação da linhagem – está incrustado na noção de família (e portanto de valor) que prevaleceu ao longo dos milênios.
Uma família, no sentido tradicional, é uma máquina construída para repetir e multiplicar sucessos; porém, mesmo quando tudo dava errado numa determinada derivação da história,
Dani é um cara com uma barba selvagem e um cabelo de leão. É um erudito, uma usina de força e um santo que viveu a maior parte da vida na companhia sem glamour de gente brutalizada que o mundo esqueceu: drogados, prostitutas, sem-teto, travestis, meninos de rua. Dani era um dos meu heróis pessoais por cada uma dessas razões, mas Dani quebrou e não pode ser mais usado como herói – pelo menos não do modo que eu costumava usá-lo antes.
Quando escreve sobre o que aconteceu, e o faz raramente (Dani escreve hoje muito menos do que fazia), ele explica que, essencialmente, exauriu e morreu. Morreu e foi comido pela escuridão até a escuridão
David R. Henson
Porque o Pentecostes, em seu coração ardente, não fala só sobre linguagem, mas é também um ato de rebelião divina através da linguagem. É o protesto exposto ao vento de um Deus sem fronteiras que se posiciona contra a equivocada preferência humana pela linguagem vazia dos poderosos. No Pentecostes, Deus fala contra a tendência humana de forçar a unidade através da uniformidade e da exclusividade, exigindo que as pessoas se conformem a padrões arbitrários de respeitabilidade e fazendo tudo isso em nome de Deus.
No dia de Pentecostes Deus fala do lado de fora das muralhas de religiosidade do templo, do lado de fora
Uma das diferenças de postura entre o Jesus dos evangelhos e o cristianismo institucional está em que Jesus não esperava de alguém que não fosse seu seguidor que vivesse de acordo com os seus ensinamentos e critérios. Ele não pedia de alguém que não via o mundo como ele via que vivesse do modo como ele sugeria. Jesus na verdade desencorajava ativamente os que tinham pretensão a ser seus seguidores, deixando claro que viver do modo como ele estava sugerindo requer uma ousadia colossal e um esforço sobre-humano.
O cristianismo, ao contrário, espera continuamente do resto do mundo que opere a partir dos seus ensinamentos e critérios.
Houve guerras que pressupunham a justiça, a vingança, a ganância, a expansão territorial; entre os conflitos da sua estirpe, o terrorismo é o único que pressupõe uma audiência.
É terrorismo porque está sendo televisionado. O terrorista trava uma guerra cujos sucessos não se medem em combate, mas em pontos de audiência. O “terror” é o fascínio e a repulsa (porque não há diferença) do espectador diante da performance do terrorista.
O paradoxo do terrorismo é também o seu método: sem audiência não há terrorismo.